sábado, 19 de outubro de 2013

Não me lembro qual foi a última vez que dormi. As últimas semanas, dias, horas vieram feito um furacão. Quatrocentas e vinte e sete emoções por segundo. E agora, acabou.

Acabou o ano laranja, as inúmeras viagens, a correria com as crianças. Quase acabou o blog.


Passei o último final de semana em Paris e me dei conta que aquela era a minha quinta vez na cidade. Complicado admitir, mas a verdade é que a Cidade Luz tem um lugarzinho aqui dentro quase tão grande quanto o de Amsterdam. E talvez pra acirrar a disputa eu tenha insistido tanto naquele último "walking tour" na cidade dos canais. Fazia um tempo horrível na Holanda, que durou o final de semana todo. Mas aí eu me enfiei com facilidade naqueles bequinhos e apontei cada canto e cada rua de nome difícil como se tivesse vivido sempre ali. Amsterdam tem gosto de lar, e acho que é assim mesmo, porque por mais brasileira que eu seja, meu tantinho holandês vai pra sempre brilhar de orgulho por cada uma das coisas que eu vi por lá.


Recebi visitas lindas, ganhei presentes, afeto e gratidão. Na última noite, me despedi da Letícia com um nó na garganta e uma porção de lágrimas. Era só um "tot straks" - dizia eu repetidamente pro meu coração. Mas aí, sem mais melancolia, coloquei meus pés descalços na grama molhada do jardim pra olhar pro alto mais uma vez e admirar o céu de Bussum. Ainda nessa mesma noite, numa despedida, uma vizinha aconselhou antes de sair: "don't make it too big". And I didn't. O rush do aeroporto na manhã seguinte me impediu qualquer cena dramática que eu sabia antecipadamente que iria fazer. Lembro do olhar sonolento da Valentine, como que perguntando "o que é que tá acontecendo aqui?", e o Lucas se recusando a me dar um abraço decente, porque ele sim não estava entendendo nada, "ela não deve estar indo tão longe". Meus olhos marejados faziam companhia aos da Noor e da Isa. A eterna falta de palavras quando se tem tanto a dizer. Mas foi só. I'm trying hard not to make it too big, é o que eu sempre faço, não é?! Mas bem que o moço do controle de passaporte deve ter me achado estranha por chorar daquele jeito quando já não tinha mais ninguém olhando...


Depois que cheguei, não tive mais tempo pra chorar. Tem uma coisa impagável na vida que se chama "ser amado". E isso é algo que a gente sente no olhar. Eu vi amor nos olhos e na respiração de cada uma daquelas pessoas incríveis que foram me receber. Que encheram meu velho quarto de vida, que celebraram cada detalhe, que por alguma razão mágica me assistiam e por esse simples fato me faziam entender que eu estava sim, de volta ao lar. E com motivos assim, eu ainda não tive desculpas pra me entristecer.

A meta agora é levar a vida, pousar o avião, recordar sentidos, rever milhares de vezes as velhas fotos. Os olhos cansados, o peso nos ombros, o peito cheio. 
Não entrar em alerta ao ouvir o choro de uma criança. Não comer pão no almoço. Não ir até ali de bike, ou até acolá de trem. Não me preocupar em vestir dez peças de roupa. Não precisar dizer sempre: sorry, ik niet spreek Nederlands. 
Tentar recomeçar. Mais uma e quantas outras forem precisas. Sorrir pro futuro. Encontrar outras cores.

5 comentários:

Unknown disse...

aaah, vou sentir saudades disso aqui! Mas é lindo te ter de volta!

Isabella Gouthier disse...

Até que enfim outubro chegou e você chegou com ele... deixando a primavera ainda mais linda! E nunca mais eu terei um sábado vazio de novo (tipo hoje! \o/) te amo zus! ♡

Lucas Garcia disse...

vai fazer falta, mas ainda bem que é por uma causa muito maior! x)

L. Pomaleski disse...

Posso ter chorado mais uma vez lendo isso?
Você faz falta nesse lugar laranja.

Amo grandãão demais!

Unknown disse...

Vou sentir falta dos teus textos. Você escreve perfeitamente bem. Espero que você consiga uma coluna em algum jornal, e continue nos maravilhando com suas lindas palavras. E caso isso aconteça, não deixe de nos avisar. Welcome back e até mais.

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