sábado, 19 de outubro de 2013

Não me lembro qual foi a última vez que dormi. As últimas semanas, dias, horas vieram feito um furacão. Quatrocentas e vinte e sete emoções por segundo. E agora, acabou.

Acabou o ano laranja, as inúmeras viagens, a correria com as crianças. Quase acabou o blog.


Passei o último final de semana em Paris e me dei conta que aquela era a minha quinta vez na cidade. Complicado admitir, mas a verdade é que a Cidade Luz tem um lugarzinho aqui dentro quase tão grande quanto o de Amsterdam. E talvez pra acirrar a disputa eu tenha insistido tanto naquele último "walking tour" na cidade dos canais. Fazia um tempo horrível na Holanda, que durou o final de semana todo. Mas aí eu me enfiei com facilidade naqueles bequinhos e apontei cada canto e cada rua de nome difícil como se tivesse vivido sempre ali. Amsterdam tem gosto de lar, e acho que é assim mesmo, porque por mais brasileira que eu seja, meu tantinho holandês vai pra sempre brilhar de orgulho por cada uma das coisas que eu vi por lá.


Recebi visitas lindas, ganhei presentes, afeto e gratidão. Na última noite, me despedi da Letícia com um nó na garganta e uma porção de lágrimas. Era só um "tot straks" - dizia eu repetidamente pro meu coração. Mas aí, sem mais melancolia, coloquei meus pés descalços na grama molhada do jardim pra olhar pro alto mais uma vez e admirar o céu de Bussum. Ainda nessa mesma noite, numa despedida, uma vizinha aconselhou antes de sair: "don't make it too big". And I didn't. O rush do aeroporto na manhã seguinte me impediu qualquer cena dramática que eu sabia antecipadamente que iria fazer. Lembro do olhar sonolento da Valentine, como que perguntando "o que é que tá acontecendo aqui?", e o Lucas se recusando a me dar um abraço decente, porque ele sim não estava entendendo nada, "ela não deve estar indo tão longe". Meus olhos marejados faziam companhia aos da Noor e da Isa. A eterna falta de palavras quando se tem tanto a dizer. Mas foi só. I'm trying hard not to make it too big, é o que eu sempre faço, não é?! Mas bem que o moço do controle de passaporte deve ter me achado estranha por chorar daquele jeito quando já não tinha mais ninguém olhando...


Depois que cheguei, não tive mais tempo pra chorar. Tem uma coisa impagável na vida que se chama "ser amado". E isso é algo que a gente sente no olhar. Eu vi amor nos olhos e na respiração de cada uma daquelas pessoas incríveis que foram me receber. Que encheram meu velho quarto de vida, que celebraram cada detalhe, que por alguma razão mágica me assistiam e por esse simples fato me faziam entender que eu estava sim, de volta ao lar. E com motivos assim, eu ainda não tive desculpas pra me entristecer.

A meta agora é levar a vida, pousar o avião, recordar sentidos, rever milhares de vezes as velhas fotos. Os olhos cansados, o peso nos ombros, o peito cheio. 
Não entrar em alerta ao ouvir o choro de uma criança. Não comer pão no almoço. Não ir até ali de bike, ou até acolá de trem. Não me preocupar em vestir dez peças de roupa. Não precisar dizer sempre: sorry, ik niet spreek Nederlands. 
Tentar recomeçar. Mais uma e quantas outras forem precisas. Sorrir pro futuro. Encontrar outras cores.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A pergunta que mais tenho ouvido nos últimos tempos é: E agora, o que você vai fazer quando voltar para o Brasil?

- Olha moço, vou abraçar meus amigos, cansar os ouvidos de todo mundo, fazer minha família ficar horas sentada ao meu redor enquanto desempacoto tudo e acho mil presentes, vou comer comida boa, falar português.

Dá vontade de responder assim. Mas aí eu acabo contando que vou procurar emprego e que vai ser difícil e que sou jornalista e etc e tal. Não sei quem é que fica mais assustado, meu ouvinte ou eu. Porque quando as pessoas convivem com uma au pair, elas enxergam ali uma... au pair. Plam! Não lembram que num tempo não muito distante você estudou, teve outra profissão, outra rotina. Nessa brincadeira, eu também acabo me lembrando que tive essa vida, mas e aí, o que fazer com ela?

Prometi pra todo mundo que não ia me preocupar com isso antes do tempo, mas quando é mesmo o tempo? Apesar de achar que nunca parei de pensar nisso, é sempre divertido ver as expressões das pessoas. “JORNALISTA?!” Essa semana quase matei de susto as duas professoras do meu menino por conta disso. Eles se revoltam em saber que na vida real, não, eu não trabalho com crianças. E ninguém jamais diria que há poucos anos eu matei uma tartaruga de fome, um bonsai desidratado. Hoje sou aquela que “nasceu pra isso”. Mas será? Me venham com sobrinhos e tá tudo resolvido, não preciso de mais nada. Vejo claramente que meus maiores dons são o verbo e o amor, nada mais. E é por isso que dei certo com as crianças.

Meu relógio desembestou de vez, e agora, mais do que nunca, eu percebo o quanto dei mesmo certo com eles. O quanto eles me ouvem, acreditam em mim e confiam de verdade. Hoje perguntei pro Lucas quem eu era pra ele. E numa carinha confusa ele disse que não sabia. Meio mãe, meio amiga, meio colega de escola, meio irmã. Só sei que ele passa a maior parte da vida dele comigo e que o som da risada dele ecoando pelas escadas de manhã é o que me dá coragem pra levantar todos os dias. Aprendendo a falar, a Valentine me chama de Mama - assim como ela chama qualquer pessoa que passar na rua. Mas aí sempre dá aquela pontadinha no peito e eu aperto ela com força nos meus braços, e não importa meu nome, porque o que ela me devolve é também amor.

Meu cronômetro me mostra 17 dias. Menos alguns. Todos os dias cheios. E eu querendo inventar lugares, desenhos, piruetas, novos recheios de sanduíche. Como se o tempo estivesse só começando. Como se o tempo não fosse parar.

Tento registrar em palavras, vídeos, fotografias ou rabiscos coloridos no papel todo o nosso tempo. Viajamos juntos, toda a família em férias, na metade de setembro. E eu confesso que nunca acumulei tantas fotos, tantos passinhos com mãozinhas dadas, tantos boas noites risonhos. Eu piscava forte pra guardar em mim uma bagagem muito maior do que aquela que eu trazia pra França. De lá, fui pra uma das maiores aventuras da minha vida, numa viagem sensacional para Marrakech. Expus minha figura na Medina, gastei todos os meus dihrans, andei de camelo, comi cuscuz, vi a lua mais bonita da minha vida. Passei uma noite no deserto ao som da percussão inconfundível da música árabe e, na manhã seguinte, apaguei todas as fotos que tinha tirado – desde a França. Era um erro grande demais pra mim, uma falha inadmissível, uma estupidez sem tamanho! Explodindo a raiva que vinha de dentro, eu engolia minhas lágrimas e ouvia de não muito longe a Letícia contando a nossa história para uma outra menina, que conhecemos no trajeto. Foi aí que eu sequei minha fúria do mesmo jeito que o vento levou a areia do deserto, onde a Lê cuidadosamente desenhou nossos nomes. Ouvindo nossa história assim, narrada por ela, naquela luz de sol que amanhece com preguiça, eu me orgulhei da gente. E conclui que não importava tanto assim ter perdido todas as fotos, porque o mais importante é continuar traçando caminhos que me permitam voltar. Caminhos que me deem fôlego pra contar histórias. Caminhos que me façam querer sempre guarda-los comigo.


Não sei o que vou fazer quando voltar para o Brasil. A verdade é essa. Mas agora, depois desse ano e de tudo que eu ganhei com ele, eu sei como nunca o que eu mais prezo na vida. Quais valores me valem, quais eu não quero levar. Tenho agora os ombros mais largos de mim.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O que é que se escreve quando não se tem muito a dizer? Ou quando a gente pode dizer tudo e não consegue dizer nada?
Escrevo esse texto sentada numa cama confortável que não é minha nem de ninguém, escutando o vento sacudir as folhas que eu vejo dançarem pela  janela. O céu azul me faz esquecer que o frio está de volta, mas ainda não chegou até mim. O sul da França tem dessas vantagens - além de uma paisagem de tirar o fôlego, vinhos incríveis e os melhores pães, figos e croissants que já comi.

Escrevo esse texto me lembrando de todas paisagens que me surgiram pelas janelas deste último ano. Me lembrando das histórias que a vovó me contou sobre uma família que não conheci e que talvez também tenha tido seus belos dias de céu azul e baguetes francesas.

Escrevo esse texto me lembrando dela e de todas as histórias que ela contou e eu não contabilizei, talvez na certeza de que as ouviria novamente. Histórias que vão ficar perdidas aos pedaços, feito quebra cabeças, nas nossas memórias. Ou que foram com ela povoar o céu.

Escrevo esse texto com os ouvidos atentos e o olfato treinado, por mais distantes que estejam os olhos. Sigo de longe os sorrisos das crianças que não são minhas, mas que também são. Por algum tempo, eu as criei - como disse a mãe. As dores saem todas de dentro de mim, e o carinho capaz de curar tudo vem de um lugar que eu não sabia que existia. Ouço suas canções e passinhos desengonçados para sempre.

Escrevo esse texto pensando em todas as pessoas que conheci. Nos sorrisos que recebi, em tudo que me doei. Nos meus pedaços que deixei cair pelo caminho. Está na hora de voltar, mas não acho que irei catá-los. Não refaço o mesmo trajeto, porque agora as esquinas dobram pra lados contrários. Não entendo de chegadas ou destinos. Me especializei na arte de fazer e refazer malas, desci em uma porção de aeroportos, fui de ônibus, trem, skate, metrô. Mas ainda me confundo sobre arrivals e departures. Pra onde segue o coração da gente?

Agora falta só um mês. 

domingo, 1 de setembro de 2013

Hoje eu vi um bocado de gente comemorando nas redes sociais o final do mês de agosto. E eu queria ir lá em cada um deles e falar: sério mesmo?

Agosto pra mim teve duas caras. E ele tava me mostrando isso todo dia até que explodiu na minha frente quando a gente virou a folhinha pra setembro. Há um ano, nessa mesma época, eu estava preparando minhas coisas, arrumando malas, comprando presentes e me despedindo de um monte de gente. E agora estou aqui, fazendo exatamente as mesmas coisas, só que do ângulo contrário.

Agosto foi o mês que eu escolhi pra fazer tudo que me faltava na listinha laranja que um dia eu escrevi mentalmente. Ainda faltam alguns dias até voltar para o Brasil, mas setembro vai ser partido porque vou viajar quase o tempo todo. Saio de viagem com os hosts, engato nas minhas próprias férias e aí já é quase outubro. Mas disso eu falo pra vocês lá na frente...

Por enquanto, basta dizer que eu fui presenteada com o agosto mais longo de todos. Pra começar, me dei um castelo de presente de aniversário. Era um dia antes e eu, minha mochila e minha bike atravessamos doze quilômetros de uma liberdade que não me lembro de ter sentido outra igual. Eu ria, chorava e cantava bem alto pra celebrar sabe-se lá o quê. Talvez, a vida. Talvez, as escolhas sem sentido que levam a gente aos lugares que enchem os olhos e o coração. Naquele dia, o castelo de Muiderslot também me encheu as pernas de dores e os ombros de orgulho.

A continuação foi com um aniversário que me durou 34h, adicionados os devidos fusos e as devidas demonstrações de afeto. E quanto afeto! Não dá pra calcular, pra descrever, não cabe em qualquer medida que já inventaram. Não consigo dizer quanto amor coube em mim e, principalmente, quanta gratidão. Cada sorriso que carreguei naquele dia vai ficar guardado comigo pra sempre.

Menos de uma semana depois, e lá estava eu de novo, com aquele mesmo calorzinho no peito, aquela mesma sensação, quando meus olhos atravessaram o Rio Danúbio e me mostraram Budapeste muito mais linda do que eu podia imaginar. Os preços incríveis, a arquitetura, o verão nas pessoas, a companhia mais do que adequada, a língua bizarra, aquela atmosfera de gente jovem, moderna e feliz. E meu fôlego se acabando no amarelo. Budapeste me ganhou pra sempre com seus heróis, seus kürtőskalács, seus telhados coloridos e o som da risada da Lelê.

Foi também agosto que eu escolhi pra fazer o resto do turismo holandês que não dava pra ficar sem. Deventer, com a maior feira de livros da Europa; Den Haag, com seu Madurodam, o Binnenhof e a praia gelada; o Zaanse Schans e todos os clichês possíveis da Holanda, incluindo aí muitos moinhos (esse aí da foto abaixo, ó), vaquinhas, sapatinhos de madeira, queijos e stropwaffles; as cervejarias de Amsterdam; Delft, com a porcelana azul e branca, a história da família real, a igrejinha torta refletida nos canais e o (dito) melhor sanduíche do país; e, por fim, Rotterdam, a menos holandesa possível, com seu porto deslumbrante e a arquitetura da sobrevivência, com direito a pontes mega modernas e as Casas Cubos.


Agosto me deu muitos quilômetros a mais no meu cartão do transporte público, um tantão de dinheiro a menos, sapatos cada vez mais gastos e uma vontade de ficar mais um pouquinho pra decorar cada detalhe, cada esquina, cada nome impossível de pronunciar. 
As duas caras de agosto me mostraram que "partir" é uma coisa mesmo muito duvidosa. Partir e chegar é quase a mesma coisa. Só que coração não sabe nada sobre questões de referencial.

Hoje, primeiro dia do mês de setembro, eu vesti minha coragem e fiz as malas. Não pra voltar pra casa, mas pra mudar de casa. A primeira de três mudanças, dentro de poucos meses. Joguei um tanto de coisa fora, doei um outro tanto, guardei com carinho um tanto a mais. E aprendi que o apego deve estar com o que a gente carrega dentro da gente. Mais do que todos os souvenires que comprei ou as milhares de fotos que tirei, o que trago dentro de mim é que pesa mais. É aquele tal calorzinho do peito, a tal sensação de liberdade impagável, o amor incalculável - lembra? Olhando meu quarto semi vazio, entulhado de restos e de caixas, eu consigo agora sorrir o que já chorei. O tempo de agosto acabou. As lembranças vêm comigo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Essa noite eu sonhei pela primeira vez que estava de volta ao Brasil. Sonho pouco ou quase nunca me lembro dos sonhos, sabe-se lá, mas dessa vez acordei com ele limpo e vivo na minha memória. Eram cenas cotidianas e banais da nova velha vida que me espera pra daqui dois meses. O apartamento novo, o restaurante da sogra, a casa da vó.

Todas as despedidas do mês de julho me despertaram pro fato de que - pam! já tá aí. E por mais que agora, mais do que nunca, eu sinta como se meu coração estivesse sempre lá, eu vejo quantos pedaços dele eu respinguei por aqui.

Na última semana, eu estava conversando com a minha host e comecei a comentar sobre todas as coisas que eu não fiz. As viagens que eu queria ter feito e não deu tempo, os estudos que eu não me dediquei, os outros cursos que eu poderia ter feito - porque seria bom para o meu currículo, pra minha vida, pra encher minha mala de carga. E entre um gole e outro do vinho branco que eu sei que ela adora, ela me olhou com uma cara realmente espantada e disse: - Girl, are you crazy?!

Ela não precisaria ter continuado, mas foi bom ouvir. No seu jeito dutch, ela me lembrou do mais importante: todas as coisas que eu fiz. "Well, you are just 22 and look at all the things you did". E aí me deu uma fagulhinha no peito que eu assimilei como orgulho de mim mesma. Por todas as coisas que eu fiz. Pode não ter saído como eu planejava, pode ter sido muito diferente dos meus sonhos de menina, pode ser que agora depois de tanto andar eu esteja mais perdida do que nunca, mas quem se importa?

Amanhã eu faço aniversário e ainda não me decidi o que sentir sobre isso. Sempre foi uma data meio tensa pra mim, mas nos últimos anos, as pessoas maravilhosas que eu trago comigo me mostraram que esse é sim um dia de celebrar e, acima de tudo, de me sentir bem. E eu senti um medo danado porque, nesse ano, nenhuma dessas pessoas estaria comigo (digo, fisicamente). Mas aí me aparecem uma amiga que desiste de viajar e de tudo o mais só pra estar comigo, uma host family inacreditável que programou cada segundo do meu dia com coisas legais, e uma família-postiça que me mostrou que também tem um cantinho do Brasil aqui na Holanda (e aí não tô só falando de comer pastel e tomar guaraná, mas do afeto que só a nossa gente tem). Pra ser sortuda assim, eu acho que estou mesmo fazendo alguma coisa certa na vida...

Da minha herança dutch, eu aprendi a arte de me programar e sei exatamente como vão ser meus dias até o último diazinho nessas terras, lá em outubro. E tentei encaixar nele todas as coisas que ainda faltam, os lugarejos holandeses, os museus, as viagens que eu tanto queria. Passei meus últimos dias trabalhando intensamente na logística desses outros dias. Não porque eu tenha me tornado uma louca controladora, nem porque me pese o que ainda não fiz. Mas porque quero levar comigo o máximo de cada lugar.

Eu olho pra trás, e pros lados, e me sinto uma velha. Não pelo peso das coisas, ou pelas minhas dores nas costas, ou porque fujo dos convites pra baladas - mas porque eu coleciono histórias. E isso, e os sorrisos que vem com elas, são as coisas mais importantes pra mim.

Mais cedo naquele mesmo dia da conversa com a minha host, fui comprar um café e consegui concluir quase todo o diálogo em holandês com o senhorzinho que trabalhava na loja. Quase no final, fui pega no pulo e não entendi o gracejo dele, então tive que explicar que meu holandês não era lá essas coisas. Ele sorriu contente e repetiu em inglês. Eu sorri de volta e já ia saindo da loja quando ele me chamou e disse: "Just keep being who you are". Horas mais tarde, no final da noite, a minha host já um pouco animada pelo vinho se despediu de mim pra ir dormir e me deixou por mais alguns minutos sozinha no jardim. Ela já estava em pé na porta quando se voltou pra mim e disse: "Just keep being who you are".

Eles não sabiam um do outro. E nem eu de mim. Mas acho que, mais do que nunca, posso me orgulhar em seguir o conselho deles.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Um lugar é feito de pessoas. Não tem o que me faça acreditar que a gente possa ser feliz sozinho. A minha grande sorte, em todas as minhas andanças, foi que estive sempre bem acompanhada. Talvez por isso cada lugar me tenha sido tão importante, de formas diferentes. Não adianta me perguntarem, não consigo escolher um destino preferido. Mas confesso que a última viagem vai ficar pra sempre num lugar quentinho do meu coração. Passei uma semana de férias, dividas entre Londres e Lisboa, com as melhores e mais antigas amigas que eu trago comigo. Se fosse pra definir em uma palavra, eu diria: surreal.

Entrei na viagem quando a Nana e a Nath, e um casal de tios mais que querido (salve, Rose e Daniel!), pousaram em Amsterdam - com a presença ilustre do meu ex-francês favorito, o namorado. Pude mostrar pra eles um pouquinho dessa minha nova terra, e foi então que percebi quão bairrista eu já sou com a Holanda. Quanto apreço eu tenho por esse lugar! Que alegria é dividir cada detalhe, cada sabor, cada gotinha dutch que já há em mim. Daqui, fomos pra Londres que - poxa! Era nosso sonho de infância, com toda aquela coisa de Harry Potter, Spice Girls e sabe-se-lá mais o quê que se passava no meu imaginário infantil. Mas foi muito mais que qualquer uma dessas coisas. Londres é um "cidadão", uma cidade frenética com o transporte público mais maluco que já vi na vida, aquele sotaque, todo o glamour da realeza, museus incríveis e gratuitos, comida e programas culturais de me tirar o fôlego. É como São Paulo, só que na Europa. E como São Paulo, eu tenho a sensação de que seriam necessários muitos outros dias pra que eu pudesse dizer que conheço alguma coisa. Antes que eu me desse conta, fomos pra Lisboa - e aí foi a vez da Nath dividir a vida dela com a gente, já que ela morou por seis meses lá, há dois anos. Que a cara do Brasil! Estar em Lisboa me explicou tanta coisa dos livros de História, tanto traço da nossa gente. Fiquei abobalhada em falar e ser entendida em português, em sentir calor novamente, em me empanturrar de comida de verdade de manhã, de tarde e de noite. O povo é caloroso como o nosso, a cidade é uma mistura de Rio de Janeiro e Salvador e, pra melhorar, é tudo barato! (Pra compensar a facada que são os pounds londrinos.)

As meninas são minhas amigas desde a infância, de verdade. Desde os dez, onze anos de idade. E isso diz muita coisa, por si só. Ter amigos de longa data proporciona um sentimento encantador de pertencimento. Você sabe exatamente onde está pisando e sabe que aquela pessoa vai saber o que quer dizer a sua cara de ódio ou de deslumbramento. E, no nosso caso, era quase sempre deslumbramento. Me despedi de todos eles com o coração na mão. Que vontade de ficar mais um pouquinho! Ou de voltar nas malas deles, ou de obrigá-los a ficar mais tempo comigo. Nunca um trajeto para um aeroporto me foi tão longo quanto aquele. Deixei parte do meu sorriso de bagagem extra pra voltar pra casa com elas.

E aí, como se já não fosse suficiente, julho chegou. O mês que eu menos queria que viesse. Porque as longas amizades podem ser pertencimento, mas as novas são redescobrimento. E a minha Holanda não teria sido a melhor de todas se não fosse a sorte que eu dei em ter uma host family incrível, mas, principalmente, amigas que fizeram cada um dos meus dias muito melhores.

Antes mesmo de chegar aqui, eu escolhi aleatoriamente algumas meninas também au pairs para tirar dúvidas e puxar papo no facebook. Quando eu cheguei, descobri que a Fabi era muito mais doce e divertida do que a menina que me fez mil encomendas antes mesmo de me conhecer; que a Talita era muito mais forte e abraçável (hehe..) do que a menina que dividiu comigo a ansiedade pelo embarque; e que a Lê, bem, ela não era só a menina que me salvou a pele ao me impedir de vir com a CI, mas a minha outra metade curitibana, a nova melhor amiga que estava guardada pra mim. 

Amanhã a Fabi se casa, no domingo a Talita vai embora, e na quinta a Fabi também. A Lelê fica mais um pouquinho (graçasaobomdeus!), mas vai se aventurar na Espanha por duas semanas e - pela primeira vez em quase nove meses - eu vou ficar sem nenhuma delas em Bussum. E não é que essa "solidão" me amedronte, mas sim a noção de como as nossas vidas vão pra rumos diferentes a partir de agora. 

E aí eu vou carregar comigo os pedacinhos delas, as histórias que vivemos juntas, as risadas sem fim, os piqueniques no chão da casa da Lê, os cafés na Hema. Vou levá-las na minha bagagem, assim como trouxe comigo tanto de tantos outros amigos incríveis. Minha vida não teria cor nenhuma sem vocês.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Antes de qualquer coisa, eu sinto que devo pedir desculpas aos amigos e demais leitores que passam por aqui. Especialmente aos que dizem: poxa, cadê post novo? Não vou mentir dando qualquer explicações, mas confesso que já comecei esse novo texto uma porção de vezes e não saía.

Do último post pra agora, uma coisa essencial mudou: a contagem. Parece engraçado, mas até agora eu contava pra frente - completei um mês, três meses, quatro... Só que agora a contagem ficou invertida - faltam quatro meses pra voltar pra casa. 

Mas ainda falta tanto pra fazer! Ainda faltam tantos lugares que eu queria ir, tanta coisa pra experimentar. O tempo encurtou mesmo e de repente eu quis fazer cada segundo valer ainda mais a pena. As últimas semanas, por exemplo, foram um turbilhão de atividades, gente chegando, gente saindo. Particularmente, devo dizer, acho que sou a au pair mais sortuda do mundo, porque nunca houve alguém para receber tanta visita gostosa quanto eu. 

E isso ajuda tanto! Sentir o calor da nossa gente, o gostinho de casa, o som da nossa língua, tudo isso faz ficar mais fácil. Até porque essas presenças nos trazem, acima de tudo, muito afeto! E fazem pensar que, por mais que ainda falte tanto aqui, é por conta desse afeto que ainda dá vontade de voltar pra casa.

Uns dias atrás eu disse pra minha irmã que não, nem o frio, nem as dificuldades, nem a língua, nem nada disso dá vontade de voltar. Mas ao mesmo tempo, também não dá vontade de ficar. Não dessa vez. Não hoje. Não assim.

Mas como diz a minha host, ainda não está na hora de pensar nisso. Por enquanto, posso me contentar em sorrir com o dia ensolarado as dez da noite, em me preocupar com a bicicleta estragada, em me empolgar ao fazer as malas mais uma vez, em nunca me cansar de resmungar sobre meus resfriados e afins, em me deixar corroer de ansiedade com as novas visitas que estão pra chegar. Me contentar e me encharcar da rotina. Deixar respingar tudo em mim. 


Ps: Estive pensando em uma porção de perguntas que os amigos e aspirantes a au pair sempre me fazem e pensei em fazer um post estilo "FAQ", com as coisas que vocês mais querem saber. Alguma curiosidade a mais, clique aqui nos comentários e manda bala! :)
 

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